top of page

Mutismo Seletivo: timidez ou patologia?

  • Nadine Bonavita
  • 30 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Mutismo Seletivo (MS) é um transtorno de ansiedade infantil complexo que caracteriza-se pela dificuldade de um indivíduo se comunicar verbalmente em determinadas situações sociais. Apesar de parecer com um comportamento de timidez, MS envolve muito mais do que apenas não se sentir a vontade em falar com pessoas e não representa uma recusa intencional de articular palavras. Os sintomas e as condições coexistentes podem variar de acordo com a singularidade de cada um, mas tendem a gerar sofrimento ao indivíduo e aqueles a sua volta. Apesar de poder ser percebida ainda na infância, MS pode se estender pela adolescência e pela vida adulta sem ser de fato diagnosticada. Opções de tratamento existem e podem ser muito efetivos, principalmente quando abrangem acompanhamento profissional multidisciplinar e apoio da família.


De acordo com o mais recente manual de MS (Johnson & Wintgens, 2017), a característica essencial para um diagnóstico do transtorno está na variação do comportamento do indivíduo, tendo que em certas situações, a comunicação verbal é rara ou escassa e em outras a fala é desinibida e espontânea. Essa oscilação está fortemente vinculada a percepção da presença de determinadas pessoas. Além disso, nenhum caso de SM se expressa da mesma maneira que outro.


Mesmo que seja considerada um transtorno de ansiedade e muitas vezes associadas a fobia social, MS não implica em ansiedade excessiva em todos os momentos. É por apresentar pequenas peculiaridades que o transtorno se torna distinguível. Por exemplo, para uma criança com MS pode ser fácil falar com os pais em um lugar grande, barulhento e impessoal como um shopping mas impossível em um local onde ela pode ser escutada por outras pessoas. É possível perceber na criança em uma situação assim, mudanças de expressão facial e corporal. A comunicação e’ então quase que inexistentes, reducida a susurros, frases curtas e gestos. Outro exemplo é o da criança que consegue estar entre amigos se comunicando de forma descontraída mas que se torna muda quando um adulto se aproxima. Por se assemelhar a um comportamento de quietude, pessoas que não convivem frequentemente com pessoas com MS nao tem a mesma facilidade de identificar essas mudanças como aqueles que fazem parte da zona de conforto delas, como normalmente é o caso dos familiares.


“Crianças tímidas podem se sentir desconfortáveis ao falar em público, mas crianças com MS se sentem horrorizadas” (Johnson & Wintgens, 2017). Assim,enquanto uma criança tímida pode lentamente ganhar confiança e se sentir a vontade com desconhecidos, outra com MS tem maior dificuldade em fazer o mesmo. As duas situações podem ser enfrentadas com encorajamento, conhecimento e suporte das pessoas envolvidas, porém o MS exige maior cuidado e atenção e tende a ser mais efetivo mediante a orientações profissionais. Entender que MS é uma fobia por exemplo é um primeiro passo para proporcionar auxílio a criança. Vale ressaltar que criancas tímidas, se submetidas a ridicularização ou pressão para falar antes da hora, também podem desenvolver MS.


Especificidades


Segundo Wong (2010), MS se desenvolve entre 3 e 6 anos de idade e mais só e’ muitas vezes diagnosticado apenas a partir dos 5 anos, o que foi relacionado a inserção da criança em ambiente escolar. Para ser diagnosticado o MS (West, 2017), a dificuldade em falar deve interferir a comunicação em contextos diversos, como o social e o acadêmico pelo período de no mínimo um mês sem que o comprometimento esteja relacionado com falta de conhecimento ou falha no desenvolvimento da fala.


Pontos a serem considerados (Johnson & Wintgens, 2017):

  • Pessoas com MS podem também receber outros diagnósticos e considerações

  • MS pode muitas vezes ser confundido com outros diagnósticos, como autismo

  • As manifestações do MS podem se modificar ao decorrer da vida, podendo também se potencializar

  • Episódios curto e/ou isolados de silêncio não satisfazem o critério de diagnóstico para MS

  • MS não afeta apenas a fala mas pode levar a tensões musculares interferindo na capacidade de movimentação do indivíduo

Causas


Especialistas sugerem que MS está relacionado com duas condições: a expectativa de falar em algumas situações gera tanto medo que o indivíduo se torna incapaz fisicamente de falar ou eles se pouparam dessa experiência intensamente angustiante evitando a necessidade de falar (Johnson & Wintgens, 2017). Quanto mais a criança vivencia essas circunstâncias, mais a ansiedade se instala.


Ainda assim, a verdade é que nao ha nenhuma causa específica já evidenciada, apenas elementos que podem contribuir para o desenvolvimento de MS:

  • Combinação de fatores genéticos e fisiológicos que favorecem a vulnerabilidade do indivíduo a desenvolver transtornos de ansiedade,

  • Eventos que estabelecem uma conexão entre a exigência de falar e o nível de ansiedade experienciado

  • Reforçamento do comportamento a partir das reações das pessoas que podem fortalecer o estresse e o medo do indivíduo

Tratamento


O manejamento do MS é realizado mediante a compreensão dos elementos que colaboram para o seu desenvolvimento englobando intervenções psicológicas e farmacológicas (West, 2017). No contexto da psicologia podem ser realizadas ações psicossociais e psicoeducativas como terapia comportamental, terapia em grupo, terapia de família e programas instrutivos.


Referências:


Child Mind Institute website. Selective Mutism.


Johnson, M., & Wintgens, A. (2017). The selective mutism resource manual. Routledge.


West, K. (2017). Examining the Literature on Fluoxetine Treatment for Selective Mutism in Children.


Wong, P. (2010). Selective mutism: a review of etiology, comorbidities, and treatment. Psychiatry (Edgmont), 7(3), 23.

 
 
 

Comentários


Posts Recentes

Arquivos

Tags

bottom of page